quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Eu pescador




Eu pescador que pesco por um instinto antigo
e procuro não sei se o peixe se o desconhecido
e lanço e recolho a linha e tantas vezes digo
sem o saber o nome proibido.

Eu de cana em punho escrevo o inesperado
e leio na corrente o poema de Heraclito
ou talvez o segredo irrevelado
que nunca em nenhum livro será escrito.


Eu pescador que tantas vezes faço
a mim mesmo a pergunta de Elsenor
e quais águas que passam sei que passo
sem saber resposta. Eu pescador.


Ou pecador que junto ao mar me purifico
lançando e recolhendo a linha e olhando alerta
o infinito e o finito e tantas vezes fico
como o último homem na praia deserta.

Eu pescador de cana e de caneta
que busco o peixe o verso o número revelador
e tantas vezes sou o último no planeta
de pé a perguntar. Eu pescador.


Eu pecador que nunca me confesso
senão pescando o que se vê e não se vê
e mais que o peixe quero aquele verso
que me responda ao quando ao quem ao quê.


Eu pescador que trago em mim as tábuas
da lua e das marés e o último rumor
de um nome que alguém escreve sobre as águas
e nunca se repete. Eu pescador.


Oitavo Poema do Pescador In "Senhora das Tempestades" de Manuel Alegre

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