quarta-feira, 21 de julho de 2010

O General, O Coronel e O Sabujo


Não sejas sabujo, pá!

Estás do lado dele porque ele é General e eu sou Coronel?

Claro, Coronel! Sempre é mais simples o General livrar-me da tropa dos séniores que vai ser obrigatória, não sei se sabe, que o senhor, que é só Coronel...

Este diálogo militarizado que conheci, quando por lá passei, há quase quarenta anos, culminou o almoço acalorado da tertúlia de amigos das sextas-feiras, que muito aprecio.

Mas quem manda um civil discutir com militares o perfil de João Franco, primeiro-ministro da parte final do reinado de Dom Carlos?

Apenas a particularidade de na minha juventude de estudante liceal o mesmo João Franco ser um símbolo da rivalidade.

João Franco era a figura máxima do Alcaide, terra fronteira da minha que era Donas. E em Donas, naquele tempo, a única arma que encontrei para contrabalançar os meus colegas do Alcaide, era um cabeça de estátua, natural da terra, João Pinto dos Santos, postado num granítico pedestal, e onde encontrei gravado em letras douradas: "Honra do Foro e do Parlamento".

Claro que em honrarias a minha terra estava nítidamente em plano subalterno e alguma coisa teria de ser feita para salvar o bom nome do povo donense. Nada como desafiar os do Alcaide para um jogo de bola no seu largo principal. Lembro-me que marquei o golo da vitória em terra do "inimigo" e tive que fugir por montes e vales para não levar uma coça.

Mas, ao mesmo tempo, o meu amigo Tony, ANTÓNIO Manuel Oliveira GUTERRES, o menino sábio, com quem passava as intermináveis tardes do verão beirão, no terraço da casa do seu avô, jogando xadrez ou às damas, se encarregou de me explicar quem era João Franco, coisa que, à época, ainda não constava nos manuais de história do liceu.

Tony, que viria a ser sucessor, quase 100 anos depois, no mesmo cargo de primeiro-ministro do nosso vizinho rival, nos intervalos das jogatanas de tabuleiro, em que por regra o "score" era 60/40 a seu favor (mas atenção que ele respeitava as minhas tácticas de ataque!), contava-me, enquanto bebiamos a fresca limonada preparada pela sua avó, o que sabia sobre o tema.

E a ideia que na altura formei de João Franco, homem pequenino, que falava "achim" e com tiques anti-democráticos, pouco ou nada se modificou pelas leituras complementares.

Mas a personagem persegue-me. Nas discussões estéreis com os colegas do liceu, no primeiro raspanete a sério no escritório do meu Pai, na Rua João Franco e, agora, acaloradamente, na mesa da melhor tertúlia de amigos. É obra!

Mas saiba V.Exa., meu Coronel, que só conheci um verdadeiro "sabujo". Era o cão preferido do Sherlock Holmes, o tal dos criptógramas, e a quem o "sabujo", leal e cordialmente, prestou inestimáveis serviços, ajudando-o a decifrar os enigmas.

4 comentários:

Alexandra disse...

Pai,
Como parece não haver 3 sem 4 informo que, após consulta ao recente edital da Junta de Freguesia de Alcaide, o "Exchelentíchimo Chinhor" João Franco, dado que reside legalmente no solo com carácter permanente e contínuo, ficou de imediato dispensado de comparência à futura Inspecção Militar Obrigatória Sénior, prevista para arrancar já em Setembro...senão seria agora a tua grande oportuninade para lhe dares uns bons calduços à boa maneira dos putos das Donas. O Tony escapa uma vez mais, pois o seu "score" é agora de 60% estrangeiro e 40% tuga.
Beijinhos da Xana

omitodesisifo disse...

Pessoas estranhas essas de Alcaide. Vangloriam-se de um oportunista ditadorzeco porque é conhecido e nasceu na sua terra. Os de Santa Comba Dão também têm "honra" do "Manholas" ter visto por ali a luz. Tenho a certeza que a vila austríaca onde Hitler viu a luz que depois cegou milhões também são capazes de se sentirem importantes ou até honrados. O local onde nascemos é apenas o fruto do acaso e se de lá saímos cedo ou se a vida da família se desenrola em isolamento social as pessoas da localidade nem têm a mínima influencia no "produto". Nem para o mal nem para o bem. Este orgulho só pode ser fruto da ignorância, de uma desumanidade mental, enfim de um atraso de crescimento da sociedade em muitos lugares, vetusta, sempre vetusta, mergulhada ainda nos séculos de chumbo de isolamento social e do poder de uma cristianidade perversa que adulterava os valores humanos a seu bel prazer...
Um abraço de compreensão e de incentivo para quem ciente da lhaneza que pode perservar o ser humanizado tem que conviver com a ganga humanóide de que não nos livramos com facilidade. Até breve!

imenso-pedro disse...

Li com gosto e prazer o escrito do meu amigo. Já estava a estranhar a ausência. As rivalidades da terra!!!,os amigos de infância!!!,
que saudades, recordar é viver. Regressei à dias do Porto e Gaia, como não podia deixar de ser. Tanto que recordei, amigos que reencontrei, visitas que efectuei, etc, etc...

Anónimo disse...

Gostei tanto, caro António, que o roubei para o meu Mural no Facebook.

António Alte Pinho