quarta-feira, 30 de junho de 2010

Navegadores



"Porém já cinco Sóis eram passados
Que dali nos partíramos, cortando
Os mares nunca doutrem navegados,
Prósperamente os ventos assoprando,
Quando uma noite estando descuidados,
Na cortadora proa vigiando,
Uma nuvem que os ares escurece
Sobre nossas cabeças aparece."



"Tão temerosa vinha e carregada,
Que pôs nos corações um grande medo;
Bramindo o negro mar, de longe brada
Como se desse em vão nalgum rochedo.
— "Ó Potestade, disse, sublimada!
Que ameaço divino, ou que segredo
Este clima e este mar nos apresenta,
Que mor cousa parece que tormenta?"



"Não acabava, quando uma figura
Se nos mostra no ar, robusta e válida,
De disforme e grandíssima estatura,
O rosto carregado, a barba esquálida,
Os olhos encovados, e a postura
Medonha e má, e a cor terrena e pálida,
Cheios de terra e crespos os cabelos,
A boca negra, os dentes amarelos."



"Tão grande era de membros, que bem posso
Certificar-te, que este era o segundo
De Rodes estranhíssimo Colosso,
Que um dos sete milagres foi do mundo:
Com um tom de voz nos fala horrendo e grosso,
Que pareceu sair do mar profundo:
Arrepiam-se as carnes e o cabelo
A mi e a todos, só de ouvi-lo e vê-lo."



"E disse: — "Ó gente ousada, mais que quantas
No mundo cometeram grandes cousas,
Tu, que por guerras cruas, tais e tantas,
E por trabalhos vãos nunca repousas,
Pois os vedados términos quebrantas,
E navegar meus longos mares ousas,
Que eu tanto tempo há já que guardo e tenho,
Nunca arados d'estranho ou próprio lenho:"



— "Pois vens ver os segredos escondidos
Da natureza e do úmido elemento,
A nenhum grande humano concedidos
De nobre ou de imortal merecimento,
Ouve os danos de mim, que apercebidos
Estão a teu sobejo atrevimento,
Por todo o largo mar e pela terra,
Que ainda hás de sojugar com dura guerra."



— "Sabe que quantas naus esta viagem
Que tu fazes, fizerem de atrevidas,
Inimiga terão esta paragem
Com ventos e tormentas desmedidas.
E da primeira armada que passagem
Fizer por estas ondas insofridas,
Eu farei d'improviso tal castigo,
Que seja mor o dano que o perigo."

(Lusíadas - Canto V)

terça-feira, 22 de junho de 2010

O Ketchup que virou Setechup



O Cristiano Ronaldo afinal tinha razão!

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A Toca do Caboz - Since 1949

Era tempo de guerra colonial, centenas de cadetes, futuros oficiais milicianos, recebiam a sua breve, mas intensa, formação militar em Mafra. África era o destino. Fazer a guerra e voltar vivo e inteiro era o grande objectivo.

A preparação física e psicológica, a motivação e liderança, a táctica e estratégia, ministradas na Tapada, eram intensivas e desgastantes, mesmo para gente de 20 e poucos anos.

Havia que compensar o corpo e a alma de tão grande desgaste e logo que a hora da liberdade chegava,  a corrida para a Toca do Caboz na Ericeira ganhava foros de prioridade. Ali chegados e garantido o lugar à mesa, o resto ficava por conta da imaginação e da perícia culinária das irmãs Ana Maria e Odete.

Para minha surpresa, passados todos estes anos, reencontrei a Toca do Caboz, o magnífico restaurante de outrora, a funcionar em pleno, agora sob a gerência do sobrinho Luis.

Como um final de tarde de Junho, degustando um petisco dos deuses - choquinhos à moda da casa - nos pode fazer reviver intensamente o passado?

Um passado, já longínquo, de mais de 40 anos!

Há coisas que não morrem!