Como foi possível,
amor, sentirmos durante tanto tempo que o lisboeta Fado e o sevilhano Flamenco
poderiam conviver eternamente e sem qualquer constrangimento?
Só a tremenda paixão,
testemunhada alternadamente pelas águas calmas e doces dos nossos Tejo e
Guadalquivir, poderia alimentar este desejo que ardia em nós como um fogo
assanhado pelo vento.
Só o calor sufocante de
Sevilha, temperado pela brisa que vem do lado do mar em Lisboa, poderia criar
este ambiente de entusiasmo, bem-estar e nostalgia que nos fazia olvidar de como
era impossível a nossa relação.
Jamais imaginamos, como
em todas as situações de pura paixão, que tudo aquilo que vivemos pudesse ter
um fim. Que tudo aquilo que construímos se desmoronasse com um simples sopro.
Que tudo aquilo que idealizámos tivesse de ser refeito em novas circunstâncias
e com novos actores.
Mas a realidade é bem
mais objectiva e concreta que os nossos idealismos e é, por vezes, tão cruel
que nos separa e mantém distantes sem hipóteses de aproximação. É como correr
atrás do arco-íris que parece estar perto de nós: corremos, corremos e nunca o
vamos alcançar.
Caminhamos de costas
voltadas e, por isso mesmo, quanto mais andamos mais distantes estamos um do
outro.
Sentimos as palpitações
dos nossos corações mais desvanecidas e o sons dos nossos passos já
praticamente inaudíveis a caminharem para o infinito.
Estamos já a ouvir o
silêncio, aquele silêncio que nos massacra ou que nos alivia, que significa
tempo de tempestade ou de bonança, que nos agrilhoa ou que nos liberta.
E é com uma indefinida
sensação que chegamos a este ponto sem retorno, incapazes de perceber que tudo
tem um fim e nada é eterno. Que tudo é passageiro nas nossas vidas, apesar da
intensidade com que vivemos alguns momentos e que farão para sempre parte do
espólio das nossas memórias.
E um dia mostraremos
que é possível casar o Fado com o Flamenco!
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