Estava eu e o meu amigo Óscar num esplendoroso fim de tarde, naquela varanda virada para o mar, a bebericar um refresco e a falar de coisas banais, quando lhe toco na parte que ele mais abomina e de que não quer ouvir falar - as novas tecnologias da informação. Dessas modernices só manipulo, e mal, o comando da televisão e o teclado do telemóvel, diz-me com manifesto desprezo o meu amigo desde há quarenta anos.
Desembrulho então o meu laptop novinho em folha, coloco a pen de banda larga e ligo à net.
O quê ? Aqui da varanda do mar, sem fios sem nada, consegues ver alguma coisa? pergunta-me o Óscar. Claro, respondi-lhe, olhando-o pelo canto do olho, e a primeira coisa que vai ver é a sua fotografia quando comandava uma unidade militar em Cascais. Faço a pesquisa pelo seu nome e surpresa grande para mim e para o meu amigo. Há alguém, aqui na net, que se chama Óscar, diz que é seu afilhado e quer saber se alguém o ajuda a encontrá-lo.
Credo, cruzes, canhoto, como pode ser isso, pergunta-me o meu amigo já um pouco curioso.
Não sei, não, Comandante. Mas que ele diz que é seu afilhado e pede que o ajudem a encontrá-lo, é verdadinha. Olhe aqui no computador.
Óscar, replica-me num segundo: tenho tantos afilhados que já perdi o conto e o rastro, mas com o meu nome só pode ser o meu afilhado de Guimarães, filho de um colaborador meu que me acompanhava com a sua guitarra nas minhas fadistices quando comandava a unidade da Figueira da Foz.
Óscar, o padrinho, conta-me então com uma pontinha de emoção toda a história.
Numa visita rápida vai a Guimarães, apadrinha o baptizado e retorna directo a Lisboa para embarcar de novo para a Guiné em mais uma missão de guerra e até hoje, por circunstâncias diversas, nunca mais haveria de ter contactos com a sua nova família da cidade-berço de Portugal.
Pois, meu caro, daqui mesmo, desta varanda sobre o Atlântico, em que revivemos o passado longíquo, vou retomá-lo agora mesmo, escrevendo um e-mail ao seu afilhado, informando-o que o seu SOS foi visto e em breve irá ver o padrinho.
E você, meu caro Óscar, acabou de ganhar um Óscar!
Num destes dias fiz questão de acompanhar o meu amigo até Guimarães para o reencontro dos Óscares 36 anos depois, numa jornada cordial, calorosa e emocionante.
E depois cantou-se o fado... (como outrora, na Figueira)
Video: ATP