domingo, 30 de agosto de 2009

E o Óscar ganhou um Óscar

Foto: ATP - Os Óscares

Estava eu e o meu amigo Óscar num esplendoroso fim de tarde, naquela varanda virada para o mar, a bebericar um refresco e a falar de coisas banais, quando lhe toco na parte que ele mais abomina e de que não quer ouvir falar - as novas tecnologias da informação. Dessas modernices só manipulo, e mal, o comando da televisão e o teclado do telemóvel, diz-me com manifesto desprezo o meu amigo desde há quarenta anos.

Desembrulho então o meu laptop novinho em folha, coloco a pen de banda larga e ligo à net.

O quê ? Aqui da varanda do mar, sem fios sem nada, consegues ver alguma coisa? pergunta-me o Óscar. Claro, respondi-lhe, olhando-o pelo canto do olho, e a primeira coisa que vai ver é a sua fotografia quando comandava uma unidade militar em Cascais. Faço a pesquisa pelo seu nome e surpresa grande para mim e para o meu amigo. Há alguém, aqui na net, que se chama Óscar, diz que é seu afilhado e quer saber se alguém o ajuda a encontrá-lo.

Credo, cruzes, canhoto, como pode ser isso, pergunta-me o meu amigo já um pouco curioso.

Não sei, não, Comandante. Mas que ele diz que é seu afilhado e pede que o ajudem a encontrá-lo, é verdadinha. Olhe aqui no computador.

Óscar, replica-me num segundo: tenho tantos afilhados que já perdi o conto e o rastro, mas com o meu nome só pode ser o meu afilhado de Guimarães, filho de um colaborador meu que me acompanhava com a sua guitarra nas minhas fadistices quando comandava a unidade da Figueira da Foz.

Óscar, o padrinho, conta-me então com uma pontinha de emoção toda a história.

Numa visita rápida vai a Guimarães, apadrinha o baptizado e retorna directo a Lisboa para embarcar de novo para a Guiné em mais uma missão de guerra e até hoje, por circunstâncias diversas, nunca mais haveria de ter contactos com a sua nova família da cidade-berço de Portugal.

Pois, meu caro, daqui mesmo, desta varanda sobre o Atlântico, em que revivemos o passado longíquo, vou retomá-lo agora mesmo, escrevendo um e-mail ao seu afilhado, informando-o que o seu SOS foi visto e em breve irá ver o padrinho.

E você, meu caro Óscar, acabou de ganhar um Óscar!

Num destes dias fiz questão de acompanhar o meu amigo até Guimarães para o reencontro dos Óscares 36 anos depois, numa jornada cordial, calorosa e emocionante.

E depois cantou-se o fado... (como outrora, na Figueira)



Video: ATP

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Os Cábulas e os Génios

Noticiava o "Privado" há uma semana:

O «spy auscultador» (um dos nomes pelo qual é conhecido), é o novo aliado dos alunos do Ensino Superior, um pequeno aparelho que se coloca totalmente no ouvido, ficando apenas um discreto fio de nylon de fora para poder ser retirado. É usado juntamente com uma antena transmissora, em forma de colar, sob a roupa e ligado a um telemóvel, permitindo uma comunicação discreta e imperceptível.

São, digo eu, as mais sofisticadas tecnologias desenvolvidas por génios ao serviço dos cábulas!

Será que os génios da actualidade, que desenvolveram estas sofistificadas técnicas, se inspiraram nos génios, seus antepassados, dos anos 60 do século XX?

Estavamos em meados da década de 60, antes da primeira visita do homem à lua na Apollo XI em Julho de 1969, com software informático disponível a bordo inferior ao de um vulgar telemóvel dos dias de hoje, nas palavras recentes de um dos seus tripulantes.

No país vivia-se o período sempre escaldante, para os cábulas, dos exames finais do curso geral dos Liceus.

No Interior Centro de Portugal um comerciante lojista, com a onda média da sua telefonia a funcionar cocomitantemente com o horário do seu estabelecimento comercial, vê-se subitamente privado da qualidade radiofónica por interferências inesperadas de vozes com perguntas e respostas de fórmulas matemáticas.



Intrigado o nosso "judeu" lembra-se de ir ao liceu, seu vizinho, e esclarecer com o amigo reitor a causa das aulas ao domicílio que não havia encomendado.
O reitor, contrariado, resolve dar uma passagem pelas diversas salas onde decorriam os exames. Intrigado com um aluno que apresentava um enorme penso curativo a cobrir-lhe todo o lado esquerdo do rosto e a falar em surdina para o pulso onde segurava o relógio, decide convidá-lo a sair e já no corredor pede-lhe para examinar a suposta ferida.
Confirma então que um rudimentar mas inovador sistema de comunicações estava montado e a funcionar na perfeição ao serviço de um cábula, construído pelo seu irmão, um pouco mais velho, que era um autodidata, mas também um verdadeiro génio, na área das telecomunicações.
Como consequência da marosca, o exame a ser resolvido do exterior do liceu via rádio, o cábula e o génio foram primeiramente desqualificados pelo Ministério da Educação, que lhes retirou todas as habilitações académicas, mas posteriormente reabilitados pelo mesmo governo de Salazar que não ficou indiferente à onda de simpatia gerada no país pelos "bons malandros".

Na verdade, o regime havia sido afrontado pela aventura de um jovem criativo e inovador.
Vim a conhecer pessoalmente este génio das telecomunicações no cumprimento do serviço militar obrigatório, tendo-me cabido a obrigação de o render na função de Oficial de Transmissões do Governo Militar de Lisboa.
Aqui fica a minha homenagem, Frederico. Os Génios nunca morrem!